terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Confidentes

Acordei.
Abri os olhos da mesma maneira. Desci a mesma rua. Mas o sol já não brilhava.
Uma avenida feita de música que me entope o pensamento. Um banco de jardim!
São as paredes gigantes, quentes e sombrias. São estas as gastas que gemem e me acusam! Olham-me!
Acusam-me!
Gritam mas não sabem do que falam! Caiem. Não se tornam a levantar. 
Fitam e amarram! Essa maneira pela qual me aprisionam. Pela qual me querem! 
INVADAM-ME. Peço-vos: Invadam-me!
Sangrem-me na voz o vosso gritar. O vosso olhar se me vê-des. Rasguem-me a pele que nunca me foi dada e presenciem. Presenciem-me! É nosso!
Não me digam que não vos importa que a chuva morra nos telhados. Digam-me que não querem. Nem sabem se a luz afoga as vossas ruas. A vossa alma não sabe mentir! 
Saboreiam os mesmos motivos. Determinam em primeira linha. Pelo grau. Pelo sentido. Pelo que vos foi dado. 
E libertam-se!

5 comentários:

  1. As paredes ouvem TUDO. Elas ficam com tudo. O que sentimos. O que dizemos. O que pensamos.

    Boa ;)

    Bom copo de vinho quente

    Fangueiro

    ResponderEliminar
  2. A importância é um dado relativo, a alma também... Quando nada é o que é e tudo é o que parece...

    Tas no bom caminho para quem não tinha jeito para escrever e só ia ilustrar... =)

    ResponderEliminar
  3. A lâmpada acesa
    (Outrem a acendeu)
    Baixa uma beleza

    Sobre o chão que é meu.
    No quarto deserto
    Salvo o meu sonhar,
    Faz no chão incerto
    Um círculo a ondear.

    E entre a sombra e a luz
    Que oscila no chão
    Meu sonho conduz
    Minha inatenção.

    Bem sei ... Era dia
    E longe de aqui...
    Quanto me sorria
    O que nunca vi!

    E no quarto silente
    Com a luz a ondear
    Deixei vagamente
    Até de sonhar...

    Fernando Pessoa

    (Sofia Monteiro)

    ResponderEliminar
  4. Gostei muito deste... as paredes têm olhos, ouvidos e muita memória...
    A música está perfeita a acompanhar. Beijos e boa sorte para o blog!

    ResponderEliminar
  5. "(...) As soon as they're flowers / They go and leave forever / Sweet Blossom! / Where is your tree? (...)"

    ResponderEliminar